Pare de buscar a apresentação impactante. Às vezes você só precisa de clareza.
Criamos uma apresentação impactante! Sério? A pergunta é: a sua apresentação precisa mesmo ser impactante? Pois muitas vezes não precisa ser, e isso não é ruim. O impacto não é condição essencial para toda e qualquer apresentação funcionar. Às vezes (e muitas vezes) ela precisa apenas ser clara, direta e eficiente. Bem como ter bons argumentos, bons endossos, se comunicar diretamente com o público-alvo.
Existem casos em que você vai precisar de impacto, mas existem casos que não, e pensar em sua apresentação começa muito antes de abrir o PowerPoint. Começa planejando a sua estrutura de comunicação. Aí sim descobrirmos que tipo de apelo você precisa para funcionar. É muito mais profundo do que abrir o PowerPoint e sair criando slides bonitinhos.
Hillary Clinton provou isso. Ela palestrou no TEDWomen 2010, em Washington DC. Na época, Hillary era secretária do Estado Americano e fez um discurso surpresa no evento que aconteceu no dia 8 de dezembro.
Provavelmente Hillary anunciará sua pré-candidatura ao governo dos Estados Unidos para as eleições de 2016 ainda neste final de semana pelos democratas – e tudo isso sem fazer uma única apresentação impactante.
Vamos entender a questão da apresentação impactante:
A discussão, como disse acima, está antes de abrir o PowerPoint. Até porque Hillary não usou uma apresentação, levou seu conteúdo apenas no discurso. E porque ela pôde fazer isso? Porque com certeza ela entendeu o cenário da sua apresentação, seu público alvo, objetivo e mensagem. E tudo isso junto gritava para ela “não precisa ser uma apresentação impactante!”.
Como sabemos, a luta de Hillary Clinton é sobre os direitos das mulheres, e ela tem background para isso, depois do caso do seu marido na época Bill Clinton com Monica Lewinsky. Sua ascensão começa através desse conflito, como todo bom herói.
Temos um tema definido e um apresentador que tem propriedade para falar sobre ele. Vamos pensar no cenário então: o TEDWomen. Nada mais propício, certo? Podemos então pensar em público-alvo: pessoas que estão em um evento para falar sobre “o poder de mulheres e meninas para criar e serem protagonistas em mudanças” (definição do próprio TED). Tudo está favorável ao apresentador, não há resistência. Precisa ser impactante? Nesse caso, absolutamente não. Mas isso não quer dizer que tem que ser chato. Entediante. Fraco.
Como Hillary construiu sua apresentação?
Hillary montou uma estrutura de discurso que funcionou muito bem para a situação da sua apresentação, e isso é saber planejar sua apresentação: ela começa se colocando como parte de um grupo que tem tudo – dinheiro, condições, oportunidades – e é só por causa disso ela está na posição de defender quem não tem. Isso cria conexão com o público. “Não sou melhor do que vocês. Somos iguais”.
O tom do seu discurso também é inteligente, em nenhum momento coloca as mulheres como “carentes de ajuda”, ela as coloca como importantes agentes de mudança, e isso eleva sua condição, exatamente como o público do TEDWomen pensa: cada argumento que ela coloca, ela endossa com estatísticas. Veja que a apresentação dela não é sobre números, eles servem apenas para provar seus pontos, e isso tira qualquer ponto de dúvida sobre seus argumentos.
Para fechar, ela finaliza com uma história. Não qualquer uma, mas uma que resuma a mensagem que ela tinha que passar. Uma maneira mais poética, que segura sua conexão com a plateia e garante a troca de emoções até o final. Isso é engajamento.
O segredo é construir engajamento. Não uma apresentação impactante
A história é sobre uma adolescente e sua vaca de estimação. Seu pai espera que ela largue a escolar e se case muito cedo em um casamento arranjado, onde ele teria uma vantagem financeira. Ela não quer e se mantém na escola, onde ela ganha essa vaca de estimação. Mas seu pai exige que ela saia da escola e se case, e ela diz que se tiver que fazer isso, ela levará a vaca junto. Seu pai sabe que não sobrevive sem a vaca, então ela continua na escola e não se casa. Isso quer dizer que mesmo uma pequena intervenção pode mudar a vida de uma mulher.
E qualquer um pode fazer isso. O que reforça a ideia de que Hillary não é melhor do que ninguém, mas de que são todos iguais e conectados. Ela não está aqui para impactar, mas para compartilhar – e isso muda toda a dinâmica da apresentação.
Saber planejar o tom e a situação da sua apresentação garante o alinhamento da mensagem, e esse planejamento vem muito antes de se abrir o PowerPoint.
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