A construção de um discurso em cima da resistência do publico é de fato um enorme desafio. E dessa forma, Monica Lewinsky soube faze-lo com maestria. Então vamos analisar alguns pontos chaves da sua apresentação para entendermos como ela foi criada a para vencer essa resistência e conduzir o seu público ao seu objetivo.
Todos nós conhecemos a história da Monica Lewinsky. Mas conhecemos apenas o que nós vimos na mídia e, como sempre, essa história virou alvo de piadas. Em 1998 todo programa humorístico tinha uma personagem Monica Lewinsky. Associações fálicas não eram raras. Veja o vídeo aqui:
Entendemos então o background dessa apresentação. Esse é o cenário, onde estamos como apresentadores e esse será o nosso ponto de partida. Você já se imaginou subindo em um palco para apresentar nessa situação? Para isso ela precisa romper a resistência já no início da apresentação. E ela o faz com a sua primeira frase. “Você está olhando para uma mulher que ficou em silêncio por uma década”. Se coloca numa posição de humildade, e começa a desconstruir uma personagem criado pela mídia.
Primeiro passo dado
Logo após esse primeiro passo, ela continua falando sobre sua apresentação no 30 under 30 da Forbes (isso mostra que esse período de reclusão acabou) e finaliza com uma piada: o público que estava nessa apresentação tinha entre 4 e 14 anos em 1998, quando tudo aconteceu. “Muitos deles só me conhecem de músicas de rap. Quase 40 músicas”.
Vamos falar sobre o elefante branco na sala? Monica precisa falar sobre o seu caso com o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, quando ela tinha 22 anos. Precisa de um gancho para essa história. Ela pode ter ou não ter acontecido (eu acredito que não). Mas ela fala da cantada que recebeu no evento da Forbes de um garoto de 27 anos que a abordou dizendo que a faria se sentir com 22 novamente. Chegamos ao número que precisávamos. Essa história abre o flashback para Bill Clinton.
Monica e nós sabemos que voltar a esse assunto pode reviver a resistência da plateia. Então ela precisa saber como fazer isso. Ela faz o gancho com sua idade hoje, 41, e diz que ela deve ser a única pessoa que não quer voltar a ter 22 anos. Perceba que todos os alívios cômicos usados são com um apelo a humildade, ela sempre aparece como lado fraco da história. Mas temos o gancho para o acontecimento que a fez famosa. Qual é a sua explicação para ele?
Começando com impacto
“Com 22 anos, eu me apaixonei pelo meu chefe. E aos 24, eu percebi as consequências devastantes disso”. Ela deu a sua versão para os fatos: não era uma pessoa interesseira, apenas uma garota apaixonada pelo chefe. Agora ela precisa da empatia do público, criar um ponto de conexão. “Levante a mão quem aqui não cometeu algum erro com 22 anos, que tenha se arrependido depois”, e a plateia reage a favor dela. Perfeito.
Em pouco mais de dois minutos de apresentação, Monica quebrou a resistência do público, assim mudando sua imagem e conseguindo a aprovação deles. Começamos com impacto. A partir de agora, ela tem um caminho livre para colocar suas ideias.
Perceba como o começo dessa apresentação é importante para reposicionar o apresentador – ou seja, sem esse início bem construído (a história da cantada nos mostra o quanto isso foi pensado) ela não conseguiria realizar tão bem seu discurso.
Agora sim, Monica Lewinsky chega ao tema da sua apresentação, uma visão crítica sobre a cultura da humilhação e o cyberbullying, um assunto que ela domina porque, como sabemos, passou essa situação na pele – foi a paciente zero em perder a reputação pessoal do dia para a noite.
Sua apresentação é sobre um assunto denso, comovente e que precisa de conexão com a plateia para funcionar. Se você não emocionar, não garante a mensagem. Sua história pessoal é perfeita para isso, mas já é conhecida e foi usada no começo da apresentação.
Monica Lewinsky precisa de outra história. Mais tocante que a dela.
É nesse momento que ela conta a história de Tyler Clementi, calouro da Rutgers University que foi filmado tendo relações homossexuais no seu quarto da faculdade e se suicidou quando esse vídeo foi divulgado pela internet. Mas essa história não pode acabar aqui. Ela funciona como ignição para Monica atuar nessa causa – técnica narrativa da Jornada do Herói, de Joseph Campbell, onde um fato funciona como “chamado a Aventura” e desperta o personagem principal para uma jornada.
Monica propõe que revertamos essa crise de bullying com uma crise de empatia e, para finalizar com um endosso, ela cita a pesquisadora Brené Brown: “A vergonha não pode sobreviver à empatia”.
A apresentação da Monica Lewinsky no TED 2015 é uma aula de quebra de resistência, construção de personagem e empatia com o público. E também de um twist, porque apresenta uma personagem tão conhecida, mas apenas por uma história.
O vídeo da apresentação da Monica Lewinsky já está disponível no site do TED. Vale a pena ver.
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